Cadeias de Valor Sustentáveis

Cadeia do açaí

O açaí é um dos produtos da biodiversidade amazônica mais conhecidos no Brasil e internacionalmente. Na Amazônia, a polpa usada para preparar açaí é retirada do fruto de duas espécies de palmeira: Euterpe oleracea, o açaí-de-touceira, que ocorre predominantemente no Leste da Amazônia, de onde sai a maior parte da produção, e Euterpe precatória, o açaí-solteiro, que ocorre no Oeste.

O Brasil é o maior produtor do fruto no mundo, com uma produção de mais de 1,5 milhão de toneladas por ano. Cerca de 120 mil famílias e 200 empreendimentos (cooperativas, associações, agroindústrias) da agricultura familiar na Amazônia estão envolvidas na cadeia produtiva do açaí. A cadeia como um todo envolve mais de 300 mil pessoas, entre produtores, batedeiras e trabalhadores das indústrias, do atacado e do varejo e de serviços em geral.

De acordo com a publicação Recomendações de Políticas Para a Cadeia de Valor do Açaí*, elaborada no âmbito do Projeto Mercados Verdes e Consumo Sustentável/Mapa/GIZ, estima-se que 60% de toda a produção brasileira seja consumida na própria Amazônia. O restante segue para os demais estados e para outros países, movimentando mais de US$ 720 milhões por ano no mundo.

Atuação do Cadeias de Valor Sustentáveis

O interesse pelo consumo do açaí é crescente tanto em grandes centros urbanos, quanto em pequenas cidades do interior. No leste da Amazônia, o manejo dos açaizais tem aumentado a produção do fruto e a indústria abastece cidades distantes das florestas e várzeas onde cresce o açaí de touceira. Já no oeste da região—Amazonas, Acre, Rondônia—onde cresce o açaí solteiro, a indústria não tem a mesma escala e os açaizais naturais sofrem poucas intervenções. Nesses estados há muito espaço ainda para desenvolver a agroindústria local e abastecer a demanda rural e de centros urbanos regionais. Assim, o projeto Cadeias de Valor Sustentáveis priorizou o investimento nas cadeias curtas do açaí, nas quais o consumo do produto final é realizado próximo às áreas de extrativismo, em locais em que a cadeia possa ser desenvolvida de forma complementar a outras cadeias apoiadas pelo projeto, fortalecendo a segurança e soberania alimentar das comunidades indígenas e extrativistas, aumentando a renda dos produtores, e estruturando cadeias entre os territórios produtores e os municípios mais próximos.

Essas características orientaram o apoio do projeto para a região do Acre, Rondônia e Sul do Amazonas, áreas de ocorrência do açaí-solteiro. Assim, os parceiros do projeto atuaram para o desenvolvimento da cadeia do açaí-solteiro extrativo – não de plantio –, principalmente na Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema (AC), Resex Lago do Cuniã (RO), Resex Lago do Capanã Grande (AM) e Resex Ituxi (AM); e na Terra Indígena (TI) Rio Branco (RO) e TI Caititu (AM). Porém, em 2022, na perspectiva de fortalecer o manejo florestal integrado em comunidades com desafios para geração de renda, o projeto atuou para desenvolver a cadeia do açaí nas Resex Arióca Pruanã, Terra Grande-Pracuúba e Mapuá, no Pará, áreas de ocorrência do açaí-de-touceira.

Melhorias realizadas

O projeto realizou intervenções em todos os elos das cadeias. A implementação da primeira agroindústria de processamento de polpa de açaí comunitária na Resex Cazumbá-Iracema – com grande atuação da equipe da gestão do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) da unidade de conservação (UC) – serviu de exemplo para as agroindústria da TI Rio Branco, realizada com apoio da associação indígena Doá Txatô e a organização não governamental Pacto das Águas, e na da Resex Lago do Cuniã, também com apoio direto do ICMBio. Mesmo que houvesse consumo de algumas famílias nas comunidades dessas áreas protegidas, a produção de vinho ou de polpa de açaí era limitada, caseira e não destinada à comercialização.

Em ambas as áreas protegidas foram realizadas assessorias para:

  • Produção pelas comunidades;
  • Mapeamento do potencial produtivo dos açaizais;
  • Oficinas e capacitação em boas práticas para coletores em técnicas de escalada e segurança do trabalho;
  • Capacitação em boas práticas de beneficiamento para as famílias envolvidas nas atividades e, também, para a gestão de empreendimento comunitário para aqueles representantes que assumiram a liderança na gestão.

Além das assessorias, o projeto apoiou a aquisição de equipamentos de proteção individual para a atividade de coleta do açaí, possibilitando melhores condições de segurança para o manejador.

O projeto promoveu, ainda, a aquisição de equipamentos, quadriciclos e outros meios de transporte.

Protagonismo das mulheres e dos jovens maiores de 16 anos

A polpa de açaí produzida nessas agroindústrias foi vendida nas próprias comunidades, contribuindo para que alimentos saudáveis e de qualidade fizessem parte do cardápio de mais famílias. O grupo envolvido na produção de açaí na Resex Cazumbá-Iracema forneceu polpa para as escolas de Sena Madureira, município de referência da unidade de conservação, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), além de comercializar nas lojas de açaí e de sorvetes da cidade. Com isso, os alunos passaram a consumir um alimento saudável produzido nos seus próprios territórios, por suas próprias famílias.

As mulheres e os jovens maiores de 16 anos assumiram o protagonismo fundamental na gestão e na operação da agroindústria da Associação Doá Txatô, que gere a agroindústria da TI Rio Branco. Recém-inaugurado e regularizado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o empreendimento desenvolveu a marca Do´açaí, e já fornece polpa para as lojas e mercados de Alta Floresta d’Oeste, em Rondônia, que compram antes mesmo de iniciar a coleta, dada a alta demanda pelo produto na cidade.

Por meio de seus parceiros, o projeto apoiou e oportunizou a chegada desses produtos aos mercados locais, aprimorando a estrutura de escoamento da produção, o marketing e a negociação e estabelecimento de contratos com compradores.

Outras intervenções

Nas outras áreas protegidas de Rondônia e do Amazonas, as intervenções foram focadas principalmente:

  • na organização social;
  • em boas práticas de coleta;
  • no mapeamento do potencial produtivo;
  • e no aprimoramento da estrutura de escoamento, para que as famílias das comunidades pudessem comercializar frutos de açaí de qualidade, com regularidade e quantidade para usinas de processamento nos municípios. Grandes volumes de frutos foram comercializados por essas comunidades.

O projeto realizou, ainda, um curso em gestão de empreendimentos comunitários entre 2020 e 2022, intitulado Formar Gestão, que contou com a participação de muitos jovens e mulheres das áreas protegidas que trabalham com o açaí. A ideia foi estimular a presença deles em processos formativos continuados de educação não formal que trabalham com temas correlatos à gestão dos negócios comunitários. Dessa forma, houve um impulsionamento a capacitação em temas como organização social, governança de processos produtivos e comerciais, finanças e fluxo de caixa, marketing e propaganda, dando oportunidade para que esses cursistas dominem outros temas, fora os aspectos ligados apenas à coleta e ao manejo.

Em todas essas áreas protegidas, a atividade na cadeia de valor do açaí é complementar às atividades da cadeia de outros produtos da sociobiodiversidade, por exemplo, da castanha-da-amazônia e da agricultura de base familiar. Essa ação complementa, de maneira significativa, a renda pela produção extrativista na perspectiva do uso múltiplo da floresta.

Nas unidades de conservação do Marajó, no Pará, o foco está no apoio ao fortalecimento da organização social para a comercialização e no aprimoramento da regulamentação do extrativismo do palmito do açaí. O manejo ordenado desse produto do açaizeiro pode gerar ainda mais benefícios para as famílias das comunidades extrativistas.

O projeto Cadeias de  Valor Sustentáveis apoia o extrativismo legal e sustentável e a comercialização justa de açaí, de forma a contribuir para a conservação da biodiversidade e para a melhoria da qualidade de vida das populações indígenas e tradicionais na Amazônia brasileira. Além disso, o acordo de cooperação prevê que o IEB, seus subparceiros, contratados, empregados e quaisquer outras instituições envolvidas na atividade financiada pela USAID não se envolvam em trabalho infantil ou em trabalho escravo. Reiteramos o compromisso dos parceiros estratégicos do projeto com as convenções estabelecidas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) (nº 138  e nº 182).*

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