As castanheiras são árvores enormes que têm de 30 a 50 metros de altura e diâmetros que alcançam facilmente de um a dois metros. O fruto da castanheira, conhecido por ouriço, leva mais de um ano para amadurecer, é mais ou menos do tamanho de um coco e pode pesar até 2kg. A casca é muito dura e abriga entre oito e 24 sementes, que são as apreciadas castanhas.
A castanha-da-amazônia, consumida em todo o Brasil e em muitos outros países, é um dos principais produtos do extrativismo realizado na região amazônica. Nem todo mundo sabe, mas a maior parte da produção de castanha é fruto do extrativismo – ou seja, as sementes são coletadas de frutos de árvores que estão no meio da floresta e não fazem parte de um sistema agrícola plantado nos moldes modernos.
A maioria dos castanhais está localizada em áreas protegidas, como nas unidades de conservação e nas Terras Indígenas de todos os estados da Amazônia. Além de a coleta ser uma importante fonte de renda para comunidades tradicionais Indígenas, quilombolas e ribeirinhas, ela é parte da tradição familiar e do modo de vida desses povos. Possivelmente, os povos tradicionais da Amazônia plantaram muitas sementes dessa espécie, contribuindo para a distribuição que hoje conhecemos.
Em sua maioria, as famílias que coletam a castanha vendem o produto in natura, ou seja, ainda em casca. Atravessadores compram o produto e fornecem para indústrias de beneficiamento. A castanha beneficiada em amêndoas para alimentação ainda é o principal caminho de produção dessa semente, que também pode ser destinada à fabricação de cosméticos e de óleos.
A maior parte das usinas de beneficiamento da castanha são empreendimentos privados. Ainda que a maioria esteja localizada na Amazônia, existem usinas espalhadas por várias regiões do Brasil, como no Sul e no Centro-Oeste. Porém, há importantes agroindústrias comunitárias geridas por associações e cooperativas. No estado do Amazonas, cinco usinas de base comunitária já foram responsáveis por cerca de 25% da produção de castanha beneficiada em amêndoa do estado. No Acre, a rede COOPERACRE é um dos maiores produtores e exportadores de castanha beneficiada no Brasil. A castanha em amêndoa desidratada é vendida para o consumidor final em estabelecimentos de todos os tipos e portes em todo o país, além de ser usada para confecção de diversos alimentos processados, como pães e barras de cereais.
Com isso, a cadeia de valor da castanha-da-amazônia tem uma característica de grande dispersão, desde sua produção em toda a Amazônia, passando pelo processamento, até a venda final em todo o país. Em termos de exportação, o Brasil é o principal produtor e exportador de castanha in natura, principalmente para a Bolívia, onde ela é processada.
O Projeto Cadeias de Valor Sustentáveis apoiou através de capacitações e intervenções diretas o desenvolvimento de arranjos produtivos e comerciais em áreas protegidas. Nesse contexto, a partir de um assessoramento técnico-administrativo e do curso multi-modular Formar Castanha oferecido pelo projeto, foram implementadas boas práticas de produção na floresta e na agroindústria, e de gestão administrativo-financeira de associações e cooperativas comunitárias atuantes na cadeia da castanha. Também foram estruturadas iniciativas produtivas com a qualificação de processos de compra, produção, escoamento e comercialização da castanha da Amazônia. Além disso, nossos parceiros atuaram junto ao poder público para facilitar o acesso dos castanheiros e de suas associações a políticas públicas, tais como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) Formação de Estoque. A partir desse trabalho, surgiram algumas redes atuantes na cadeia da castanha.
A Rede da Floresta, que reúne diversos povos castanheiros de Rondônia, foi concebida para apoiar na comercialização com compradores de castanha in natura e formar estoques com grandes volumes para alcançar melhores preços. Recentemente, a Rede da Floresta se instituiu como empresa privada, incubada pela organização da sociedade civil Pacto das Águas. Também implementou uma indústria de processamento e uma loja em Ji-Paraná.
Resultados das intervenções do projeto:
(Principalmente nas Resex Federal e Estadual do Rio Cautário e Resex Federal do Rio Ouro Preto e nas terras indígenas (TI) Rio Branco e Igarapé Lourdes que fazem parte da Rede da Floresta.)
O Observatório da Castanha se organizou a partir da articulação de parceiros do projeto. Hoje, envolve mais de 55 organizações de representação comunitária e 12 organizações não governamentais de assessoria, sendo referência para assuntos relacionados à cadeia de valor da castanha-da-amazônia, além de funcionar como fórum de articulação política e aprimoramento técnico.
O Semear Castanha é uma rede de assessores comunitários formados pelo curso Formar Castanha, representando diversas áreas protegidas. A rede é coordenada pelo IEB, com participação de representantes da Operação Amazônia Nativa (OPAN), Fundação Vitória Amazônica (FVA) e Pacto das Águas. Os assessores do Semear atuam nas suas comunidades tradicionais apoiando o aprimoramento das práticas produtivas e comerciais.
Além desses coletivos que surgiram no escopo do projeto, o Cadeias de Valor Sustentáveis também apoiou o fortalecimento da Rede de Cooperativas e Associações de Beneficiamento Agroextrativista do Amazonas (RECABAAM). A rede reúne as principais usinas de base comunitária de beneficiamento da castanha-da-amazônia do Estado do Amazonas com o intuito de fortalecer as relações comerciais e conquistar mercados fora do estado.
Das usinas da RECABAAM, duas têm recebido atenção particular do projeto. Uma delas é a da Cooperativa Mista Agroextrativista do Rio Unini (COOMARU), única localizada dentro de uma unidade de conservação, a Resex do Rio Unini, que é apoiada tecnicamente pela FVA.
Já a usina coordenada pela Associação dos Agropecuários de Beruri (ASSOAB), localizada no município de Beruri, transformou a cadeia da castanha-da-amazônia na região pelo intenso trabalho de fortalecimento das bases produtivas, implementação de boas práticas de coleta e processamento e rastreabilidade da produção.
O papel das mulheres ganha destaque em todo o trabalho realizado pela ASSOAB, que gera emprego para 40 mulheres ao longo de todo o ano. A associação tornou-se, em 2020, a primeira usina de castanha de base comunitária do Estado do Amazonas a ser licenciada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para exportação da castanha beneficiada. Com isso, ela é a única usina de base comunitária regulamentada para exportação para os EUA.
Essa conquista resultou do esforço do trabalho de organização desenvolvido nas comunidades produtoras e das boas práticas de qualidade implementadas no beneficiamento da castanha. Além de produzir castanha seca em amêndoas, a ASSOAB fornece boa parte da produção para a Natura fabricar óleos para seus cosméticos.
Todo esse aprimoramento da organização socioprodutiva promoveu vendas coletivas de castanha in natura também em comunidades de outras áreas protegidas como a Resex do Ituxi e a TI Caititu, no Amazonas, apoiadas pela OPAN.