Cadeias de Valor Sustentáveis

Pesquisa inédita mostra que cadeia de castanha-da-amazônia movimenta mais de R$ 2 bilhões/ano, mas ainda precisa avançar em questões sociais, ambientais e na remuneração do extrativista

OCA lança estudo “A Castanha-da-Amazônia: Aspectos Econômicos e Mercadológicos da Cadeia de Valor”, com coordenação do Imaflora e IEB. Acesse na íntegra

RESUMO: Pesquisa inédita realizada pelo Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA), com coordenação do Imaflora e IEB, entrevistou produtores, associações, cooperativas, usinas comunitárias e privadas, empresas e atores-chave da academia e do mercado multinacional para traduzir a complexidade da cadeia de valor da castanha-da-amazônia;- A cadeia tem movimentação financeira de mais de R$ 2 bilhões/ano; estudo estima margens de cada elo da cadeia de valor;- Brasil produz mais de 33 mil toneladas de castanha in natura/ano;- Elo produtivo tem mais de 60 mil produtores, mas fica com menos de 5% (R$ 99 milhões) do total movimentado;- A castanha-da-amazônia é proveniente quase exclusivamente do agroextrativismo com coleta realizada por povos indígenas e povos e comunidades tradicionais da Amazônia;- Apesar dos inúmeros atributos socioambientais que a castanha carrega, eles estão longe de ter um peso significante na decisão de compra por parte do setor industrial e comercial;- Preço é o principal fator para tomadas de decisão sobre compras nos elos finais da cadeia de valor;- Esforços privados para comércio mais justo podem contribuir para valorização da cadeia, mas soluções estruturantes exigem articulação de esforços entre atores e novas e modernas regulações e políticas públicas.

Saudável, amazônica, protetora de florestas, de culturas e de tradições e com papel fundamental para a economia da sociobiodiversidade brasileira, a castanha-da-amazônia movimenta mais de R$ 2 bilhões por ano, mas ainda remunera mal os principais atores da cadeia de valor: os castanheiros e as castanheiras. É o que aponta o estudo “A Castanha-da-Amazônia: Aspectos Econômicos e Mercadológicos da Cadeia de Valor”, publicado pelo Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA) na quinta-feira (20/4) e disponível para download na Biblioteca do Observatório.

Extrativista exibe castanhas-da-amazônia. Foto: José Medeiros/Pacto das Águas.

“O estudo mostra que a castanha-da-amazônia tem um potencial de geração de renda enorme em todos os sete estados produtores, mas a forma como a cadeia de valor é estruturada não permite que esse potencial se materialize na forma de remuneração adequada para os mais de 60 mil produtores espalhados pela região”, afirma Luiz Brasi Filho, Coordenador da rede Origens Brasil® no Imaflora. Brasi conta que o documento lançado agora traz uma visão ainda mais aprofundada da cadeia da castanha, que já tinha sido objeto de estudo da organização em 2016 e foi agora atualizado em parceria com o OCA.

Segundo o estudo, o elo produtivo não chega a absorver nem 5% da movimentação total da cadeia, e há situações em que a margem de lucro do produtor é inexistente. Por outro lado, a pesquisa estima que as margens dos elos seguintes variam de 12% a 30%.

Mas como funciona essa cadeia de valor e o que a leva ser tão desigual? Quanta castanha é produzida e que caminho ela faz desde quando é coletada por castanheiros e castanheiras até chegar ao consumidor no Brasil e no mundo? Qual a movimentação financeira e como o preço é formado ao longo dos elos? Quais são as margens de cada ator da cadeia e porque são tão diferentes?

A pesquisa inédita entrevistou produtores, associações, cooperativas, usinas comunitárias e privadas, empresas e atores-chave da academia e do mercado multinacional para tentar responder a essas e outras questões numa tentativa de traduzir parte da complexidade dessa cadeia tão importante para povos indígenas e povos e comunidades tradicionais produtores de castanha.

(Acima) Coletor de castanha do povo Apurinã inicia trabalho de quebra dos ouriços de castanha na Terra Indígena Caititu, AM. Foto: Adriano Gambarini/OPAN; e (abaixo) trabalhadoras separam castanhas-da-amazônia em usina da Cooperacre. Foto: Juvenal Pereira/WWF-Brasil.

Segundo André Machado, representante do secretariado-executivo do OCA, o estudo aponta que a cadeia da castanha é complexa com diversas variações no seu funcionamento por ser uma cadeia longa, geralmente com vários intermediários e canais de distribuição pulverizados. Há diversos tipos e quantidades de elos, etapas e atores – que variam a depender da área de produção e origem; a logística de escoamento é bastante complicada e o volume das safras são de difícil previsão. Além disso, o perfil, localização e maturidade das organizações comunitárias é muito heterogêneo, assim como a demanda dos compradores.

“Essas variáveis tornam a caracterização da cadeia uma tarefa árdua. Os números do estudo são aproximações dessa complexidade, mas têm o objetivo de contribuir

para o debate da valorização dos seus diferentes elos e atores, especialmente o produtor extrativista, que é o grande responsável por gerar valores ambientais, sociais e culturais importantes, mas que não são reconhecidos e remunerados adequadamente pela cadeia”, explica.

Luiz Brasi Filho completa dizendo que o Imaflora e seus parceiros vêm buscando conectar o setor empresarial com as populações tradicionais e povos indígenas por meio do comércio ético, visando sensibilizar e engajar o mercado a criar relações mais justas, diretas e com transparência na cadeia. 

Informações: Observatório da Castanha

#castanha #OCA #USAID #USFS